"Atentxs e Fortes"

Querida amiga Lynn,

Eu queria falar com você sobre ela.

Sobre sua roupa, seu cheiro |doce| e suas asas,

Sobre sua imagem e sobre como a vejo.

Então,

Eu a vejo só – e na sombra. Eu e |todos os| meus preconceitos e os |preconceitos| dos outros. Nós a vemos.

Nós a vemos triste e ameaçada. Ameaçadora |também| às vezes.

Ela é, ela acontece. E ela paga por ser e por acontecer.

Paga com o quente da virilha[1], com o sangue dos seus[2], com o suor dos outros.

O que ela recebe não paga nem o quente da virilha, nem o sangue dos dela, nem o suor dos outros.

Ela tem asas – que querem podar. Ela tem anjo da guarda. Ela é anjo de si e dos outros, da velha com o cachorro, da família no nordeste.

O perfume é doce, o dela somente. O de ninguém mais é. O cheiro sufoca os preconceitos, e tudo mais o que a corta, rasga e dilacera. O perfume é a fantasia dela. É |também| a fantasia do cara do carro preto e do outro do carro branco. É a minha fantasia nas costas dela.

Enquanto ela se dá, muitas vezes por menos de 15 minutos[3], textões sobre ela surgem: teorias, gostos, desgostos, a favor e contra. Mas, contra por quê? Quem dá é ela. E isso é da [alta] conta dela – só por ser e /sobre/viver.

Que ela viva a sua fantasia porque pra quem nasceu de asa o pecado é não voar [4]

Sou grato – a ela e a você. Obrigado.

Fernando.


[1] Liniker em “Textão”

[2] Linn da Quebrada em “Bomba pra Caralho”

[3] Liniker em “Textão”

[4] Pitty em “Bahia Blues”

Fotografia impressa “fine art” de tamanho 110cm (largura) x 165cm (altura) acompanhada de texto impresso.

"Às vezes esqueço o medo, mas medo a gente tem" é uma derivação de um projeto anterior intitulado “Correspondências” que foi um trabalho aprovado por edital de seleção e exposto na “Galeria Décimo” na Câmara dos Deputados em Brasília/DF em maio de junho de 2019.

O projeto criado pelos artistas Lynn Carone e Fernando Pericin teve como objeto apresentar um conjunto de obras produzidas e organizadas a partir de correspondências trocadas entre os dois. Algumas obras foram frutos de caminhadas, perambulações e devaneios urbanos; outras, oriundas da pesquisa artística pessoal de cada artista. Ambos buscaram (e ainda buscam) entender e desvendar as relações afetivas entre as pessoas e a cidade, ou, talvez, entre si próprios e o espaço, sempre considerando a passagem do tempo.

Juntos, Lynn e Fernando criaram um método para a exploração dos caminhos e explicação dos motivos: o uso do diálogo sobre temas recorrentes em seus trabalhos, por meio de uma correspondência escrita e visual, dialogam sobre suas percepções e seus diferentes olhares sobre temas afins. Os trabalhos trazem lembranças de andanças a esmo por diferentes lugares, tendo como principal objetivo a relação entre o “eu”, a cidade onde vivem, a natureza e a ação do tempo sobre lugares, pessoas e objetos. Histórias, memórias, anseios, cartografias, passagens são registradas por texto, fotografia, desenho ou coleta. As obras são testemunhos do efêmero, da contemplação e do devaneio.

As ações de “Correspondências” envolveram a realização de uma exposição de arte em espaço expositivo da Câmara dos Deputados, com a apresentação de textos, imagens fotográficas, gravuras, lâminas de herbários e desenhos.

A matéria prima do projeto “Correspondências” abarca a imagem, o tempo e a emoção em mundo de memória fugaz.

O resultado da exposição foi tão positivo para ambos os artistas que, juntos, decidiram dar continuidade ao projeto em outros locais, inscrevendo trabalhos diferentes, mas com a mesma linha de pesquisa e intenção, em outros editais ou seleções.

ATENTxS E FORTES - Exposição de arte queer com obras que falam sobre resistência e lembram o levante de Stonewall, ocorrido há 50 anos, quando gays, lésbicas e transexuais revidaram a violência policial e iniciaram a campanha pelos direitos civis dos homossexuais. A mostra é um evento paralelo ao Seminário LGBTI+ do Congresso Nacional, com obras de 16 artistas, entre eles está o maior representante da arte queer brasileira, Victor Arruda, em atividade há mais de 50 anos. A exposição vai ocupar todas as galerias da CAL, e além de Victor Arruda estarão presentes obras do coletivo Afrobapho, Camila Soato, Diego Bresani, Elvira Cachorra, Fernando Pericin, Francisco Hurtz, Helder Amorim, Livia Auler, Lynn Carone, Lyz Parayzo, Matheus Assunção, Rafael da Escóssia, Ramonn Vieitez, Victor Hugo Soulivier e Wolney Fernandes. O Seminário ocorre há 16 anos e, nesta edição, terá como tema “Memória, Verdade e Justiça – 50 anos de luta”, uma alusão ao levante de Stonewall em Nova Iorque, ocorrido em 1969, O Seminário do Congresso está marcado para o dia 25 de junho. No dia anterior, 24, ocorrerá o primeiro Seminário LGBT da Assembleia Distrital.

Curadoria: Clauder Diniz

Serviço:

Mostra de artes visuais: Atentxs e Fortes

Local: Casa da Cultura da América Latina

Endereço: SCS Quadra 4 Ed. Anápolis, Brasília DF

Abertura: Dia 18 de junho, às 19h

Visitação: De 19 de junho a 31 de julho de 2019. De segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 14h às 18h.

Evento especial, dia 25 de junho, às 19h, com performances e música.

Entrada franca.

Classificação indicativa: 18 anos.

Artistas participantes: Afrobapho, Camila Soato, Diego Bresani, Elvira Cachorra, Fernando Pericin, Francisco Hurtz, Helder Amorim, Livia Auler, Lynn Carone, Lyz Parayzo, Matheus Assunção, Rafael da Escóssia, Ramonn Vieitez, Victor Arruda, Victor Hugo Soulivier e Wolney Fernandes.

CAL

CAL

UnB Notícias - UnB Notícias a e f.pdf