Ao lado deste texto repousa uma fita magnética, datada de 21 de abril de 1970 — quando Brasília tinha apenas dez anos. Por décadas permaneceu selada sob o rótulo de “Matéria de Estado”, oculta em gavetas do Arquivo Nacional. Agora, deslocada do silêncio, apresenta-se aqui como objeto de memória e ficção.
As imagens que contém foram registradas por engenheiros da Telebrasília, com equipamentos emprestados da Nasa. Mostram a Esplanada dos Ministérios tomada por luzes silenciosas em formação geométrica. Objetos metálicos pairam sobre os palácios modernistas, refletindo-os como espelhos em diálogo. Do Lago Paranoá emergem figuras translúcidas, linhas de luz instáveis, que tocam o mármore de Niemeyer como se reconhecessem ali uma arquitetura irmã.
Na gravação, uma voz anônima sussurra: ‘Eles se comunicam com a cidade, não conosco. Tocam o espaço como instrumento musical.’ A fita guarda ainda frequências de rádio — um zumbido cristalino entrelaçado a padrões matemáticos que apontam para coordenadas da Terra, e, entre elas, Brasília. O governo, à época, confiscou o material e condenou ao silêncio aqueles que o testemunharam.
Redescoberta quarenta anos depois, a fita revela, em detalhe ampliado, o reflexo das naves projetando a Catedral de Brasília em miniatura, como se digitalizada pelos visitantes. Hoje, artistas e cientistas têm acesso a cópias dispersas, transformando segredo em obra, documento em mito.
Aqui, na presença física da fita, permanece a pergunta: teria sido um gesto diplomático entre civilizações, uma leitura estética da jovem capital ou apenas a constatação de que Brasília já nasceu como construção alienígena?
Dizem que, ao escutar seus sons com atenção, ainda é possível ver luzes vermelhas cruzando o céu noturno do planalto — as mesmas de 1970, quando o futuro e o desconhecido pousaram juntos na cidade.